domingo, 22 de janeiro de 2012

Dentro em breve seria dias das crianças, ou natal? Não me recordo exatamente, eu era muito novo. Contava quatro ou cinco anos, lembro-me que era uma data em que as crianças ganhariam presentes e que eu por alguma razão não receberia nada, acho que já tinha ganhado algo de aniversário, deve ter sido isso. Decerto eu estava resignado, pelo que me recordo sempre fui criança compreensiva, diferente das que dão escandalos em Shoppings quando os pais não satisfazem suas necessidades. Não poderia estar desesperado, não era minha caracteristica.
Tudo mudou quando minha prima me contou, como quem revela um segredo valioso, de uma oração para um tal santo que atendia pedidos infantis de qualquer ordem, e que ela já havia solicitado em outras ocasiões e sido atendida prontamente, continuou afirmando que já pedira seu presente de Natal/dia das crianças e estava certa de recebê-lo sem falta. Novamente não distinguo se ela me provocou a fazer o mesmo ou se eu sozinho tive a grande ideia de recorrer aos céus para meus anseios. O fato foi que eu julguei a ideia ótima e me embrenhei nisso.
Não me vem a imagem eu orando, com um terço na mão, ajoelhado em motivo de um carrinho, bola, playmobil ou coisa qualquer com toda contradição que isso possa carregar, a verdade é que eu esperava e com uma fé que nunca mais terei na minha vida, dessas fés inabaláveis como dizem, lembro bem, era sólida como uma verdade irrefutável, eu estava certo de que no dia x meu presente estaria lá num ármario velho da casa, que eu mesmo tinha escolhido. Com certeza para entrar ao reino de Deus se tem que ser como criança, entendi.
Esforço-me na minha luta contra o esquecimento, aperto forte as pálpebras para reproduzir em algum telão do meu psiquismo um diálogo que tive com minha mãe em que eu perguntava se um ente divino poderia realizar algum pedido do lado de cá das coisas, sei que sua resposta foi afirmativa assim como sei que eu não disse do meu pedido em específico, fui genérico, ainda hoje sou assim. Mas na íntegra me é impossível a reprodução da referida conversa.
Acordei cedo no dia, o ármario ficava no quarto dos meus pais, eu estava ansioso. Planejava como iria brincar, se os céus tinha acertado a cor e tals. Então eu abri as portas da esperança, do desgosto. Nem preciso afirmar que não havia presente algum ali, não se tratava de carta de papai noel que os adultos leem e compram presentes para sustentar a doce mentira para as ingênuas criancinhas, era meu pedido íntimo que não tinha sido ouvido, eu estava arrasado. A fé move montanha, a minha não foi capaz de conceber um presente. Sem crer no que via, andei pela casa procurando o maldito presente - sim, agora se tornou maldito -, acabei por interrogar novamente minha mãe. Queria uma satisfação e ela me devia, tinha me confirmado que Deus atendia a todos. Então expliquei, agora sendo específico, que meu presente não se encontrava no local onde devia, que eu tinha sido enganado, algo em mim ainda pulsava achando que ela num passe de mágica arrancaria o coelho da cartola e meu presente apareceria ali. O que tive foi uma explicação do tipo: não é assim filho, as coisas não acontecem conforme você quer, pedir e receber acontece, mas é difente. E eu que achava que saúde era bem mais complicado que um presente, tive de entender na marra o complexo mundo de pedir e ser atendido.
Na próxima oportunidade eu relato de quando minha fitinha da Nossa Senhora da Aparecida arrebentou e nada aconteceu, até a próxima.

Justificativa

Não conseguindo manter um blog e estando vários meses sem atualizá-lo, decidi criar mais esse aqui - não sei bem se essa justificativa deveria ser postada aqui nos "Diários contraditórios" ou no "Palavra Estilhaçada. O certo é que andei burilando o outro blog, tentando deixá-lo mais literário e também, por vezes menos literário. Eliminei excessos, excluí vírgulas desnecessárias, engavetei alguns textos que nada tinham a ver comigo e moderei frases e períodos grandiloquentes demais; em breve terá um conto inédito. Acessem: http://palavraestilhacada.blogspot.com
Pois bem, falemos um pouco desse Blog, o motivo de eu tê-lo criado.
Há muito venho vasculhando minha mémória no tocante à minha espiritualidade - ou no momento: a falta dela - estou colhendo fatos que estão nas reminiscências, deteriorados pela ação do tempo, confusos por ter havido tanta vida. Colhendo e tentando fazer uma reflexão crítica para entender um pouco mais da minha suposta perca de fé.
Meus textos serão divididos quase que a bel prazer, sem uma organização cronológica ou temática. Atenderei as forças casuais da memória.
Espero que gostem.